Ficar em casa, só sair para atividades essenciais – e, ao
fazê-lo, procurar manter 1,5m ou 2m de distância das outras pessoas. Essa tem
sido a recomendação das autoridades sanitárias da maioria dos países. Mas, de
acordo com um estudo publicado por duas universidades europeias, ela só é
válida para quem está parado: ao caminhar ou correr, um indivíduo pode exalar
ou inalar microgotículas contendo vírus num raio muito maior, de até 10 metros.
Os cientistas utilizaram um túnel de vento e ferramentas de
CFD (fluidodinâmica computacional) para compreender como partículas contendo o
vírus podem se espalhar dependendo da atividade física que uma pessoa está
realizando. Ao correr ou andar de bicicleta, o indivíduo se desloca muito mais rápido
do que se estivesse andando. Isso significa que, se ele for portador
assintomático do SARS-CoV-2, pode espalhá-lo por uma área maior. Os praticantes
de atividades físicas também correm maior risco de pegar o vírus, justamente
porque se deslocam mais depressa – e podem acabar entrando em “nuvens” que
contenham SARS-CoV-2 em suspensão.
Testes anteriores, realizados em condições de laboratório
por cientistas da Universidade da Califórnia e do NIAID (Instituto Nacional de
Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA), constataram que o coronavírus pode
ficar até 3h suspenso no ar. Já foi demonstrado que o coronavírus pode ser
transmitido pela fala – e acredita-se que isso possa ocorrer, também, por meio
da respiração.
O estudo europeu, que foi realizado pela Universidade
Católica de Leuven (Bélgica) e pela Universidade de Tecnologia de Eindhoven
(Holanda), simulou diversas situações, com vários graus de distância entre os
indivíduos. Quando duas pessoas estão caminhando em ritmo moderado, a 4 km/h,
elas deveriam manter uma distância de 5 metros entre si. Entre corredores, o
raio de contágio pode ser de até 10 metros – considerando dois indivíduos, um
atrás do outro, correndo a 14 km/h (velocidade relativamente alta, mas comum
entre corredores experientes). Quanto maior a velocidade do exercício, maior a
distância que precisaria ser mantida para evitar o contato com as partículas.
Quando o corredor que vem atrás se mantém na diagonal do que
está na frente, por exemplo, uma distância de 3 metros já seria suficiente. Mas
os cientistas não consideraram o efeito de possíveis rajadas de vento, que
poderiam deslocar as partículas – e aumentar ou reduzir o raio de
contágio.
Também vale ressaltar que se trata de um estudo de aerodinâmica:
os pesquisadores avaliaram padrões de emissão e suspensão de partículas, mas
não calcularam se elas conteriam vírus suficiente para infectar alguém. O
contágio por aerossol, ou seja, vírus em suspensão no ar, é considerado
plausível por infectologistas – mas a concentração viral necessária ainda não
foi determinada.
Fonte: Revista Super Interessante.