O exercício físico atenua e reverte a perda de massa muscular, melhorando a força e o funcionamento dos músculos de mulheres obesas submetidas a cirurgia gastrointestinal para perda de peso (cirurgia bariátrica). O resultado foi obtido em pesquisa realizada pelo Grupo de Fisiologia Aplicada e Nutrição da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) e da Faculdade de Medicina (FMUSP) da USP com 80 mulheres que foram operadas em São Paulo. Por meio de análises moleculares, o estudo revela que o treino físico beneficiou os mecanismos do corpo que regulam a massa muscular, diminuindo a atividade de genes específicos relacionados à degradação de proteínas.
O professor
Hamilton Roschel, da EEFE, coordenador do grupo de pesquisa, explica que as
técnicas de cirurgia bariátrica podem ser classificadas como restritiva,
malabsortiva ou combinada. “A técnica restritiva reduz o tamanho do estômago e,
consequentemente, a quantidade de alimento ingerido pela pessoa”, relata. “Na
malabsortiva, o trajeto do alimento é alterado induzindo a um menor tráfego do
alimento no intestino e, assim, a uma menor absorção dos nutrientes, e a
técnica combinada associa os dois métodos.” De acordo com dados da Sociedade
Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), em 2019 foram
realizados 68.530 procedimentos de cirurgia bariátrica no Brasil, número 7%
superior às 63.969 cirurgias feitas em 2018.
Para a pesquisa,
foram recrutados 80 pacientes no Centro de Referência em Cirurgia Bariátrica e
Metabólica do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina (FMUSP).
“Eram todas mulheres, com idade ao redor de 40 anos e IMC médio de 48 kg/m2. Um
grupo realizou um programa de treinamento físico supervisionado três vezes por
semana por seis meses, iniciado três meses após a cirurgia bariátrica, e outro
recebeu apenas o atendimento pós-cirúrgico padrão, com atendimento médico e
acompanhamento nutricional, mas que não engloba exercícios”, descreve Roschel.
“As sessões de treinamento compreendiam exercícios aeróbicos e de
fortalecimento muscular, supervisionados por pesquisadores do grupo e
conduzidos no nosso Laboratório de Avaliação e Condicionamento em Reumatologia
(Lacre) do HC.”
“Nossos resultados
mostram que mulheres obesas submetidas à intervenção cirúrgica e a um programa
de treinamento físico adquirem um perfil de expressão gênica e características
musculares, isto é, área de secção transversa da fibra muscular, capilarização,
força e funcionalidade, comparáveis a um grupo controle de mulheres com
condições físicas normais”, enfatiza o professor. “Esses resultados, analisados
em conjunto, nos permitem recomendar a inserção de programas de treinamento
físico sistemático no tratamento pós-operatório de mulheres submetidas à
cirurgia bariátrica a fim de contrapor os efeitos adversos da perda de massa
muscular.”
Fonte: Jornal da USP.