A resposta dessa pergunta costuma ser difícil e polêmica, já que não agrada inteiramente os porta-vozes dos discursos motivacionais e seus ouvintes. A questão é que, do ponto de vista teórico existem sim limites de desempenho e é justamente por isso que observamos uma tendência de platô conforme um atleta avança no esporte, assim como histórias de lesões, justamente por ter ultrapassado algum desses ‘limites’, que infelizmente não são facilmente reconhecidos.
Muitos acreditam que é na fadiga
e no cansaço onde podemos identificar o limite, mas é aí que está a graça da
conversa, já que eles nos ajudam sim a identificar o momento, mas a precisão
desses indicadores pode ser mais ou menos correta, dependendo da pessoa,
circunstância e contexto da prática esportiva.
O ponto é que por uma questão de proteção e preservação, o nosso sistema nervoso – que tem como objetivo nos manter vivos – tenta a todo momento identificar até onde é seguro irmos ou nos expormos. Essas análises, no entanto, não são “preto no branco”, nem totalmente claras e confiáveis. Isso porque dependem de coletar e interpretar informações do que acontece à nossa volta e comparar com as experiências que já tivemos, para aí sim tomar uma decisão que possa aumentar nossas chances de ter sucesso e sobreviver. Ou seja, estamos a todo momento passando por uma análise probabilística, buscando minimizar riscos e ampliar a nossa chance de sucesso.
Em resumo, a resposta para essa
pergunta é “Existe sim!”, ou melhor “Existem alguns sinais” que nos ajudam a
não passar do limite.
A primeira coisa é que uma vez
que esses indicadores não são perfeitamente precisos, o melhor é não se
“agarrar” a um único sinal específico. Então minha primeira dica é ter atenção
a um conjunto de informações e sinais, para daí, munido de melhores
informações, tomar uma decisão sobre “não forçar mais”. Alguns desses sinais
legais de observar são:
Mente
Quando estamos em uma situação
desafiadora e cansativa como a prática esportiva, nossa mente diz: “O que você
está fazendo aqui?”, “Você não precisa disso” ou até “Onde você estava na
cabeça para se meter nessa?”. Esses são os primeiros sinais de que estamos
saindo da nossa zona de conforto. Até aí sem problemas, pois é desafiando a
zona de conforto que a mágica acontece. Nesse momento a dica é mudar o foco do
pensamento. Se eles voltarem, cada vez mais fortes e com maior frequência,
passe para o próximo passo.
Esforço
Existe uma escala que vai de 0 a
10 em que você pode avaliar a sua Percepção Subjetiva de Esforço (PSE). Como o
próprio nome diz, ela é subjetiva, mas nos ajuda a ter parâmetros. Quanto maior
o número, maior o esforço. E quanto maior o esforço, por menos tempo somos
capazes de sustentar a prática esportiva nesse nível. Simples assim.
Fadiga
Quando ela começa a aparecer,
tudo começa literalmente a degringolar. Nossa qualidade na execução da tarefa
cai, nosso desempenho piora e nosso nível de atenção para manter a qualidade
passa a ser muito maior. Começou a perceber que você não consegue manter a
mesma qualidade e que está errando mais do que acertando? Talvez seja o momento
de dar um tempo e descansar.
Dor
Se você persiste, provavelmente
esse desconforto vai crescer e pode se tornar algo mais desagradável com uma
câimbra, enjoo, dor, lesão ou até mesmo um desmaio ou algo mais grave. A
verdade é que a cabeça pode mandar continuar, mas em algum momento algum sistema
vai flertar com o limite e poderá te fazer parar. É bom saber ouvir e respeitar
também!
Mas, lembre-se, o seu limite pode
mudar ao longo da vida
Cada pessoa nasce com
características e capacidades diferentes, mas que não são fixas e imutáveis e
podem ser modificadas ao longo da vida. Em resumo existe um potencial
treinável, capaz de ser ajustado e aperfeiçoado (até porque se não fosse
possível ninguém se dedicaria a treinar). O legal é entender que existem várias
as capacidades que temos como seres humanos. Podemos inclusive usar exemplos:
força, potência, flexibilidade e equilíbrio são algumas das mais conhecidas,
mas não são as únicas.
Podemos pensar na capacidade de
manejar estresse, na concentração, no planejamento, no improviso e muito mais.
É como se para cada um desses pontos existisse um limite e cada pessoa terá o
seu. Assim como cada situação exigirá mais de uma ou outra capacidade. Por
exemplo, o levantamento de peso vai exigir mais força e potência. Ballet
exigirá um pouco desses, mas certamente exigirá mais flexibilidade e equilíbrio
do que o levantamento. É como se cada uma dessas capacidades que falamos
tivesse um limite, que até certo ponto é ajustável e pode ser melhorado com o
treinamento. Pensando assim fica mais fácil entender que os anos podem somar
positivamente nessa equação, pois aumentam o tempo de dedicação e treinamento,
jogando esse limite um pouco mais longe, do que aquela pessoa com menos tempo,
experiência e dedicação.
Fonte: WebRun