Entenda como a cafeína pode auxiliar na prática esportiva.

Por dois anos, Steph Gaudreau desistiu de sua xícara diária de café. Não porque a cafeína estava afetando seu sono ou deixando-a ansiosa, mas porque ela queria ganhar uma vantagem em suas competições de mountain bike.

Na esperança de aumentar o efeito da cafeína como auxiliar de desempenho, Gaudreau tomou uma xícara de café no dia da prova, enquanto se aquecia. A atleta, agora uma terapeuta nutricional e treinadora de força, diz que sentiu uma sensação de euforia, que a ajudou a se sentir focada e mentalmente preparada para a competição. A estratégia deu certo. Ela cruzou a linha de chegada em primeiro lugar.


A cafeína é a substância psicoativa mais consumida no mundo e uma das mais bem estudadas. Os cientistas têm observado o efeito da dela no atletismo desde 1900. Embora ainda haja alguma discordância quanto ao mecanismo exato pelo qual o consumo de cafeína afeta o desempenho do exercício — e se suspender o consumo até o dia da competição lhe dar uma vantagem —, os cientistas concordam que uma xícara de café antes do treino pode melhorar o desempenho.

No entanto, é importante estar ciente das possíveis desvantagens do consumo de cafeína e saber a melhor forma de usá-la a seu favor durante o treino.

Seja consumida por meio de café, um suplemento pré-treino ou uma bebida energética, a cafeína tende a melhorar o desempenho em uma média de 2% a 5%, conta Brad Schoenfeld, professor de Ciência do Exercício no Lehman College, no Bronx. Embora a cafeína melhore moderadamente as atividades anaeróbicas (exercícios intensos e curtos), como levantamento de peso e treinamento intervalado de alta intensidade, parece mostrar o maior benefício com esforços aeróbicos (exercícios menos intensos e mais longos), como natação, ciclismo e corrida.

Por exemplo, uma análise de 2020 de vários estudos sobre o efeito da cafeína no desempenho do remo descobriu que os remadores competitivos melhoraram seu tempo em cerca de quatro segundos numa prova de 2.000 metros.

Essa resposta à cafeína varia de pessoa para pessoa, dependendo de fatores como genética, sexo, atividade hormonal e até dieta. Alguns veem melhoria de desempenho acima de 5%, enquanto outros não experimentam melhoria quase nenhuma.

— Existem metabolizadores rápidos de cafeína e metabolizadores lentos — explica Mike T. Nelson, professor associado do Carrick Institute for Clinical Neuroscience.

A influência da cafeína em nosso sistema nervoso começa com a adenosina, um neurotransmissor que se liga a receptores específicos e nos deixa sonolentos. A cafeína se liga a esses mesmos receptores, bloqueando o funcionamento da adenosina.

— Quando a cafeína bloqueia esse receptor, o resultado é um efeito estimulante — pontua Guest.

Isso, por sua vez, libera outros hormônios como dopamina e epinefrina, que estão relacionados ao humor, foco e estado de alerta.

Alguns estudos mostraram que a cafeína também ajuda nossos músculos a produzir mais força. Nosso corpo precisa de cálcio para iniciar as contrações musculares, e a cafeína ajuda a mobilizar os íons de cálcio para que eles tenham uma maior interação com os filamentos que induzem as contrações das fibras musculares.

Outros estudos mostram outra força poderosa em ação: o efeito placebo. Se esperamos que a cafeína nos ajude a ter um desempenho melhor, isso pode ser suficiente. Em deles, velocistas competitivos tiveram um desempenho tão bom com cafeína quanto com um placebo, desde que fossem informados de que ingeriram cafeína. Quando os atletas foram informados de que receberam um placebo, eles correram mais devagar, mesmo que tivessem recebido cafeína.

Em outros estudos, os especialistas veem melhorias no desempenho em relação aos placebos, mas não em medidas como consumo de oxigênio ou frequência cardíaca. O corpo humano é extremamente complexo, pondera Schoenfeld, e muitas vezes é difícil desvendar o efeito de um produto químico no desempenho atlético.


Fonte: O Globo.