Imagine Nova York com as vias e pontes fechadas. E você correndo pelas ruas da cidade, ao lado de milhares de outras pessoas. Passando por pontos turísticos como a Staten Island, com vista uma para a Estátua da Liberdade, a ponte do Brooklyn, as charmosas ruas arborizadas na avenida Lafayette e a ponte Queensboro, e por cartões-postais da ilha de Manhattan, como a Primeira Avenida, o Bronx, a Madison Avenue Bridge, o Harlem, a Quinta Avenida, o icônico Central Park e a Columbus Circle. Depois de 8 horas e meia e 42.195 km, você conclui o percurso ofegante em frente à Tavern on the Green.
Em poucas horas, você teve Nova York aos seus
pés. Foi esse percurso que fez o engenheiro mecânico Guilherme Porto Reis, 54,
ea esposa Rita de Cássia Guedes, 53, e o amigo Flávio Moraes, 47, em 2019. A
Maratona de Nova York integra a World Marathon Majors, como são chamadas as
seis maiores maratonas do mundo, ao lado dos percursos de Boston (EUA), Berlim
(Alemanha), Chicago (EUA), Londres (Reino Unido) e Tóquio (Japão). Cada vez
mais viajantes buscam essa experiência, conciliando correr e viajar em uma viagem
de férias. Alguns maratonistas contratam uma agência; outros fazem tudo por
conta própria.
"Eu e minha esposa já tínhamos o hábito de correr. Por causa dela, comecei a treinar e arriscar em uma prova de 10 km. Quando o mosquito da corrida pica a gente, a coisa começa a ficar séria", conta Reis. Dos treinos para uma assessoria de corrida e novos desafios foi um pulo. Até que recebeu um conselho de seu técnico: "a melhor forma de parar é correr o mesmo trajeto todo dia, porque aí se torna repetitivo, cansativo". A próxima meta foram os18 km na Volta da Pampulha. "A partir daí ficamos capacitados para a meia-maratona: 21 km", recorda. Já se consideravam preparados para um novo desafio.
Foi em uma viagem à praia do Rosa, em Imbituba
(SC), que ele, instigado pela esposa, decidiu se inscrever na Maratona de Nova
York. "Na corrida, o importante é ter desafio, meta", salienta. E
veio o gostinho de juntar o hobby com o turismo. "Associamos nossa viagem
anual ao exterior à cidade da maratona. Chegamos perto da data da competição,
corremos o percurso e depois curtimos as férias", pontua. A exemplo de 98%
dos competidores que se inscrevem em uma competição, o importante para o casal
não é vencer a prova, mas desafiar os próprios limites. "Não faz diferença
se você chegou em primeiro ou em 50 mil", afirma.
Além de mudar hábitos de vida e fazer turismo,
o casal mineiro ainda tem um contato saudável com outros maratonistas. Eles
fazem parte do grupo intitulado Jabutas, Lebres e Traíras, com mais de cem
integrantes, coordenado pelo maratonista e vendedor de seguros Flávio Moraes.
Ele já levou 40 membros do grupo para a Maratona de Nova York e outros 12 para
a Maratona de Londres. Na semana passada, Moraes participou da meia-maratona de
Austin, no Texas (EUA). Coincidir férias com provas têm sido uma constante em
sua vida: ele já mira a competição de Frankfurt em outubro, na Alemanha.
Para as Mayors, aconselha Moraes, é
recomendado comprar o ingresso com bastante antecedência ou contratar uma
agência para embarcar para a competição com inscrição garantida. De acordo com
Orsini Nascimento, sócio-diretor da Capo Viagens, os principais gastos para
participar de provas são com aéreo, hospedagem e inscrição para a prova, itens
que pesam no bolso conforme se aproxima o evento. "A dica para quem quer
economizar é se programar. Vale lembrar que, em algumas maratonas, é necessário
se inscrever com antecedência, por conta da alta procura ou até mesmo ter um
requisito específico".
Os pacotes da Capo Viagens normalmente incluem bilhete aéreo saindo de São Paulo (sem as taxas de embarque), hospedagem, alimentação e ingresso para a competição. Não cobrem, no entanto, custos extras como passeios pagos, transporte, seguro-viagem e documentações específicas exigidas em alguns países. Nascimento destaca que nas viagens é possível fazer passeios turísticos, conhecer mais o país, explorar a cultura e fazer novos amigos. Os pacotes custam entre R$ 1.787,55 (Maratona de Santiago) e R$ 14 mil (Maratona da Disney). O preço da inscrição também varia segundo o circuito escolhido.
Guilherme Reis chama a atenção para o mercado
em torno das competições. "Geralmente antes da maratona há uma feira
vendendo roupas, suplemento alimentar, pacote de fotos. "Você se diverte e
gasta, porque quer ter a camiseta oficial do evento. É tudo caro", pontua.
E aproveita para reproduzir uma indagação de seu técnico: "Qual é a graça
correr uma maratona e não tirar foto, não contar para ninguém?". Para a
prova de Berlim, ele desembolsou € 160 só em ingressos e para a de Nova York,
US$ 300. Como considera o custo alto, Reis costuma comprar os ingressos com
antecedência e fazer um bom planejamento financeiro.
Para aconselhar outros competidores e
mantê-los informados sobre as maratonas ao redor do mundo, o amigo Flávio
Moraes mantém o perfil @misterjabuta no Instagram, narrando suas experiências e
de integrantes da confraria nas competições em tom didático e bem-humorado. A
criação do Jabutas, Lebres e Traíras até originou um grupo composto de mulheres
maratonistas, o Jabutinhas. Das seis Majors, ele já correu quatro. Completar o
circuito é o sonho de consumo da maioria dos corredores. Como o casal Guilherme
e Rita, Moraes corre atrás desse desafio para ganhar a Six Star Finisher Medal
— até hoje, 6.637 maratonistas em todo o mundo levaram a medalha para casa,
sendo 145 deles brasileiros.
Fonte: O Tempo.