Estou nesse setor há 15 anos e, de tempos em tempos, escuto a mesma opinião / pergunta por aí: “O mercado da corrida está crescendo, né?!?”. É uma pergunta que escutei em 2009, 2013, 2017, 2019, 2023 e agora, 2024.
Há uma falsa ilusão de que a
Corrida se tornou um hype. Uma espécie de Beach Tennis 2 (longa vida ao Beach
Tennis, mas, ainda, incomparável), ou então, que é uma espécie de bolha como as
paleterias, brigaderias, ou qualquer tendência de negócios super efêmera. Não
é.
Em uma matéria da editoria de
tendência do UOL FFW, há uma frase em destaque: “A onda das práticas de corrida
tornou-se um fenômeno crescente nas ruas – e nas redes sociais”.
É uma abordagem que muitos veículos de comunicação estão adotando na tentativa de identificar uma tendência de consumo ou comportamento “novo”. Entretanto, essa realidade vem sendo construída há muito mais tempo.
No Brasil, o país dos digitais
influencers (10,5 milhões se autodeclaram), nós geralmente aceitamos a agenda
das mídias sociais como realidade. É bem legal que muita gente está falando do
Running, só tínhamos que acertar um pouquinho os ponteiros.
Se o Rapper famoso está correndo
a maratona de NY é porque é bom para ele, não por conta do Hype, amigos. Os
esportes individuais são um autoencontro.
Nos últimos anos o público teve
um leve rejuvenescimento e identificamos um crescimento de 1,5% nas inscrições
da aclamada Geração Z nos eventos esportivos entre 2022 e 2023. Esse aumento
deve ser ainda maior em 2024.
Um setor, que ainda é
predominantemente formado por adultos de 35+, todavia. E ainda vivemos uma
mudança na curva etária que vai deixar esse setor ainda mais relevante: estamos
vivendo mais e tendo menos filhos, ou seja, ficando mais velhos.
Por que incomoda colocar a
corrida como tendência?
Porque não é.
Chamar algo de tendência é
reconhecer o crescimento de algo que ainda não estava no radar de todo mundo.
Neste caso, é falso. A corrida, assim como o ciclismo ou a natação, são
mudanças graduais da sociedade que se consolidam como a parte boa do futuro e que
queremos para novas gerações.
É um legado positivo da
humanidade – sim, isso é possível.
Ao longo de dezenas de anos,
diversas vezes aumentou-se de forma relevante o número de pessoas correndo no
mundo. Aceleração-Plateau-Aceleração, de forma cíclica, constante.
Em nenhum momento da história
houve uma diminuição no número de praticantes – que é o que acontece com a
maioria das tendências.
Há um fluxo contínuo de adesão
que iniciou nos anos 70 com o Cooper etc.
Não podemos confundir a sensação
de hype – causada pelas trends de TikTok, adesão de jovens famosos ou matérias
de institutos de tendências, com algo que é muito mais sólido, consistente e
levou anos para ser construído através de investimento de marcas,
conscientização social e reflexões sobre novas maneiras de levar a vida.
Sem ignorar o impulso da pandemia, que nos forçou a fazer esporte de maneira solitária, o running oferece uma vida contemporânea.
O processo que estamos não é um
hype: é a transformação de uma conversa supostamente de nicho para o universo
inteiro de humanidades. Furar a bolha. De novo, é uma pauta social, de inclusão
e saúde.
Fonte: WebRun