A preparação para provas de longa distância, como os 21 km (meia-maratona) e os desafiadores 42 km (maratona), é uma equação complexa que combina vários elementos de treinamento. Entre todos eles, o volume – a quilometragem total semanal acumulada – emerge como o componente mais crítico e não negociável para o sucesso. É o alicerce sobre o qual toda a resistência necessária será construída, sendo mais determinante do que a velocidade pura para qualquer corredor que almeje simplesmente terminar ou bater sua marca pessoal.
A principal razão para a supremacia do volume é a adaptação fisiológica que ele proporciona. Ao expor o corpo gradualmente a distâncias cada vez maiores, o sistema cardiovascular se torna mais eficiente no transporte de oxigênio, os músculos desenvolvem uma capacidade ampliada de armazenar e utilizar glicogênio (o combustível primário) e o organismo aprende a recrutar fibras musculares de forma mais econômica. Essas adaptações são lentas e progressivas, e só são alcançadas através da consistência de quilômetros percorridos, treino após treino.
Especificamente para a maratona, o volume elevado é o que permite ao corpo se adaptar a queimar gordura como fonte de energia de forma mais eficiente, um processo conhecido como "economia de combustível". Quando as reservas de glicogênio se esgotam – o famoso "muro" por volta do km 32 –, o corpo que foi condicionado com alto volume terá uma capacidade muito maior de utilizar gordura para manter o ritmo, adiando ou mesmo evitando a fadiga extrema que derruba muitos corredores.
Contudo, a arte do treinamento está em manipular o volume com inteligência. Aumentá-lo de forma muito abrupta é o caminho mais rápido para lesões por overuse, como canelites e estresses ósseos. A regra de ouro dos 10% (aumentar a quilometragem semanal em não mais que isso) é um guia valioso. Um plano bem periodizado intercala semanas de maior volume com semanas de recuperação, permitindo que o corpo se adapte e se fortaleça, transformando o estímulo do treino em ganho real de performance.
Em resumo, enquanto treinos de velocidade, fortalecimento e estratégia nutricional são peças vitais do quebra-cabeça, nenhum deles surtirá efeito pleno sem uma base sólida de quilometragem. O volume é o professor que ensina aos músculos, coração e mente a suportarem o desafio único de percorrer 21 ou 42 km. Dominar essa progressão gradual e consistente é a chave para cruzar a linha de chegada não apenas com sobrevivência, mas com a satisfação de um objetivo conquistado através de preparo e respeito à distância.